BETs: o preço alto das apostas para os jovens que buscam atalhos financeiros

Era uma vez um jovem que sonhava com o diploma universitário, mas foi seduzido por uma promessa mais rápida de riqueza: as apostas online, conhecidas popularmente como “Bets”. Parece exagero, mas não é, pois, segundo uma pesquisa da ABMES em parceria com a Educa Insights, 1 em cada 3 jovens brasileiros adiou o ingresso no ensino superior devido aos gastos com apostas esportivas. Para piorar ainda mais a situação e o que torna tudo isso mais alarmante é com relação aos JÁ MATRICULADOS: 14% dos estudantes trancaram ou atrasaram o pagamento do curso por causa do rombo financeiro causado pelas apostas.

Mais do que números, esses dados escancaram uma crise silenciosa: os jovens estão trocando o longo prazo pelo imediatismo, e o impacto vai muito além da educação. Está nas dívidas, na ansiedade, na frustração e, principalmente, na falta de educação financeira. Os jovens estão abrindo mão de seu futuro buscando atalhos que não os levarão a lugar algum, a não ser para uma zona de risco e de decepções financeiras que podem comprometer sua relação com o dinheiro no presente, mas também no futuro, reduzindo sua autoestima e sua capacidade em cuidar de suas próprias finanças pessoais.

O vício do ganho rápido e o apagão do planejamento

O crescimento meteórico das casas de aposta no Brasil não veio acompanhado de um crescimento na consciência sobre dinheiro. É o famoso “ganhar fácil”, com marketing sedutor, patrocínio de clubes, influenciadores que se aproveitam do chamado “cachê da desgraça alheia” que pode lhes proporcionar um retorno de até 55% sobre as perdas dos apostadores, somado às promessas enganosas de que “com R$ 5 dá pra mudar sua vida”. Dá mesmo — só que nem sempre para melhor.

No fundo, estamos falando de um comportamento financeiro perigoso: usar dinheiro essencial com a expectativa de multiplicá-lo em curto prazo, sem controle nem reserva de emergência, pode, antes mesmo destes jovens entrarem no mercado de trabalho, já comprometer sua vida financeira de largada. A pesquisa da CNDL/SPC Brasil mostra o seguinte retrato da Geração Z:

  • 47% não controlam suas finanças pessoais
  • 53% não têm nenhum tipo de planejamento financeiro
  • Mais de 60% ainda não possuem qualquer reserva para emergências

Ou seja: não há controle, não há planejamento financeiro algum, e ainda há uma falsa sensação de que “dá tempo de resolver depois”. E quando o depois chega, vem o cartão estourado, o cheque especial que se torna “espacial” devido ao limite astronômico, as mensalidades atrasadas e, com sorte, uma dose de arrependimento.

Desigualdade e endividamento: quando a classe pesa no bolso

Os dados do UOL ainda mostram um recorte importante: entre os jovens das classes D e E, 43% só conseguiriam iniciar a graduação se interrompessem os gastos com apostas, enquanto apenas 22% da classe A alegam o mesmo. A conclusão é clara: quanto menor a renda, maior o impacto das apostas na trajetória educacional e financeira.

E aqui entra uma armadilha cruel: em vez de ver a educação como um investimento que gera renda no futuro, muitos veem a aposta como a única chance de “virar o jogo”. A longo prazo, isso se traduz em ciclos de endividamento, frustração e estagnação social.

Consequências práticas (e perigosas)

As apostas têm três grandes impactos nos jovens:

  1. Financeiro: dinheiro que seria destinado à faculdade, transporte, alimentação ou poupança acaba indo pelo ralo em razão das “bets”.
  2. Educacional: atraso ou desistência do ensino superior compromete a empregabilidade, a carreira, a renda futura e até mesmo um melhor posicionamento social. Segundo dados da ABMES/Symplicity de 2022, 69% dos recém-formados conseguem emprego (CLT ou informal) em até um ano após a formatura; 81% no bacharelado atuam na área de formação, comparado a 69% dos licenciados e 51% dos tecnólogos.
  3. Emocional: culpa, ansiedade e até depressão são comuns em quem perdeu o controle sobre o dinheiro — especialmente sem rede de apoio.

Além disso, é comum o endividado apostar ainda mais para “recuperar o prejuízo”, gerando um looping de perda → aposta → mais perda → mais aposta. Conhecido também como comportamento compulsivo de risco.

Caminhos para virar esse jogo

Educação financeira é o antídoto mais eficaz contra o vício do imediatismo. Mas ela precisa ser feita na linguagem da juventude, com ferramentas que se conectem com a realidade digital deles. A seguir, algumas dicas práticas:

1. Use apps para controlar os gastos

Ferramentas de mercado ou até planilhas simples ajudam a enxergar onde o dinheiro está indo. Ver o gasto com “bets” como uma categoria isolada pode ser um baita choque de realidade.

2. Crie metas reais (e visuais)

Quer fazer faculdade? Estudar fora? Comprar algo caro? Transforme esses sonhos em metas financeiras visíveis: adesivo no espelho, wallpaper do celular, fundo de tela do computador, lembrete semanal. Isso reforça o “porquê” de evitar gastos impulsivos ou de realizar apostas em jogos de azar.

3. Busque ajuda

Perdeu o controle? Não se envergonhe. Há planejadores financeiros especialistas em aspectos financeiros comportamentais, psicólogos, programas de apoio a endividados e até grupos anônimos para jogadores compulsivos. Falar sobre o problema é o primeiro passo para resolver.

4. Por fim, o futuro não se aposta e nem tem atalhos — se constrói

Não é proibido se divertir, apostar ou se arriscar. O problema é quando isso passa a definir sua trajetória de vida e a única chance de virar o jogo de sua vida financeira. O jovem que adia o sonho de se formar para tentar a sorte nas “bets” está vendendo seu futuro por promessas que, na maioria das vezes, não se cumprem.

Controlar as finanças não é chato — é libertador. Significa poder escolher onde estudar, onde morar, o que fazer com o seu tempo e sua vida. A educação financeira, ao contrário das apostas, não promete enriquecer da noite para o dia — mas garante que você não fique pobre para sempre.

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Rogério Nakata é Planejador Financeiro CFP® da Economia Comportamental e palestrante sobre os temas Educação Financeira e Planejamento Financeiro de grandes organizações públicas e privadas.

E-mail: atendimento@economiacomportamental.com.br

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